Suzane Martins Brancaglioni

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Sou psicóloga e escrevo aqui no Psiconsultório. Com base na Psicanálise, te guio em um espaço de confiança para explorar emoções, entender angústias e redescobrir sua força interior.

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O Que é a Bulimia Nervosa? (CID-11: 6B81)

Uma Análise Completa de Causas, Sinais e Tratamento

Por Suzane Martins Brancaglioni | Atualizado em 18/09/2025 | 8m

Bulimia Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A Bulimia Nervosa é um transtorno alimentar grave e potencialmente fatal, caracterizado por um ciclo de compulsão alimentar e comportamentos compensatórios inadequados. Ao contrário da Anorexia Nervosa, a bulimia não é necessariamente marcada por uma restrição alimentar extrema ou por um peso corporal significativamente baixo. A pessoa com bulimia vive uma batalha constante entre o desejo de comer e o medo de engordar, o que a leva a um ciclo de sofrimento e culpa. A compreensão da doença é fundamental para o diagnóstico precoce e para o tratamento eficaz, que visa não apenas a recuperação física, mas também a psicológica.

1. O Que é a Bulimia Nervosa? (CID-11: 6B81)

A Bulimia Nervosa é um transtorno mental que se enquadra na categoria de transtornos alimentares. Seu diagnóstico é baseado em critérios claros e definidos por manuais como a CID-11 e o DSM-5. O ponto central da doença é o ciclo de compulsão e purgação.

  • Critérios Diagnósticos (CID-11 e DSM-5):
    • Episódios Recorrentes de Compulsão Alimentar: O indivíduo ingere uma quantidade de comida que é significativamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período de tempo limitado (por exemplo, em menos de duas horas). Durante este episódio, a pessoa sente uma total perda de controle sobre a alimentação. Ela pode sentir que não consegue parar de comer ou controlar o que e o quanto está ingerindo.
    • Comportamentos Compensatórios Inadequados Recorrentes: Para tentar evitar o ganho de peso, a pessoa recorre a comportamentos extremos e perigosos. Os mais comuns incluem:
      • Vômitos autoinduzidos: A forma mais frequente de purgação.
      • Uso inadequado de laxantes e diuréticos: O uso excessivo desses medicamentos para eliminar calorias.
      • Jejum ou restrição alimentar: Períodos de jejum total após um episódio de compulsão.
      • Exercícios físicos em excesso: A prática de exercícios de forma compulsiva, em intensidade e duração impróprias.
  • Frequência e Duração: Para que o diagnóstico seja confirmado, os episódios de compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios devem ocorrer, em média, pelo menos uma vez por semana durante, no mínimo, três meses.
  • Autoavaliação Centrada no Corpo: A autoavaliação do indivíduo é excessivamente influenciada pelo peso, forma corporal e aparência. É a crença de que seu valor como pessoa está atrelado ao seu corpo, o que causa um grande sofrimento.

2. Causas e Fatores de Risco

A bulimia nervosa não é causada por um único fator. É o resultado de uma interação complexa e multifatorial que envolve aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais.

2.1. Fatores Psicológicos e Emocionais

  • Baixa Autoestima e Imagem Corporal Distorcida: A insegurança em relação ao próprio corpo e uma autoavaliação negativa são as bases da doença. A pessoa sente-se inadequada e tem uma percepção de si mesma que não corresponde à realidade.
  • Perfeccionismo e Controle: Muitos indivíduos com bulimia são perfeccionistas e têm uma necessidade de controle. A compulsão alimentar é a perda total desse controle, o que gera uma angústia que é "aliviada" com a purgação.
  • Histórico de Trauma: O abuso físico, sexual ou emocional na infância pode ser um fator de risco significativo. A bulimia, em alguns casos, pode ser uma forma de lidar com a dor e as emoções reprimidas do trauma.
  • Transtornos de Humor: A bulimia frequentemente coexiste com transtornos como a depressão, ansiedade e transtorno de personalidade borderline. A pessoa pode usar o ciclo de compulsão e purgação para regular emoções intensas.

2.2. Fatores Biológicos e Genéticos

A pesquisa aponta para uma predisposição biológica para a bulimia.

  • Hereditariedade: A probabilidade de desenvolver a bulimia nervosa é maior em pessoas que têm um histórico familiar de transtornos alimentares.
  • Neurotransmissores: A desregulação da serotonina é frequentemente encontrada em pessoas com bulimia. A serotonina é um neurotransmissor que regula o humor e o apetite, e sua disfunção pode contribuir para a compulsão alimentar.
  • Fisiologia do Cérebro: Estudos de neuroimagem mostram que o cérebro de pessoas com transtornos alimentares pode ter uma resposta alterada a alimentos, prazer e medo.

2.3. Fatores Ambientais e Socioculturais

  • Pressão por Padrões de Beleza: A sociedade, em particular a mídia e as redes sociais, promove um padrão de beleza idealizado, irreal e focado na magreza. Essa pressão pode levar a uma insatisfação crônica com o corpo e ao desenvolvimento de comportamentos de risco.
  • Histórico de Dietas: A grande maioria das pessoas com bulimia nervosa tem um histórico de dietas restritivas e severas. A privação alimentar pode ser o gatilho inicial para um episódio de compulsão, que por sua vez gera culpa e leva à purgação.
  • Comentários Negativos: Comentários da família ou de amigos sobre o corpo, peso ou hábitos alimentares podem aumentar a vulnerabilidade para o desenvolvimento do transtorno.

3. Sintomas e Sinais de Alerta

A bulimia nervosa é uma doença que geralmente é mantida em segredo, o que a torna difícil de identificar. No entanto, existem sinais físicos, emocionais e comportamentais que podem indicar a presença do transtorno.

3.1. Sintomas Comportamentais e Emocionais

  • Comer em Segredo: A pessoa come grandes quantidades de comida sozinha, escondida de familiares ou amigos.
  • Preocupação Obsessiva com Peso e Aparência: Passa muito tempo se olhando no espelho, se pesando e falando sobre calorias e dietas.
  • Idas Frequentes ao Banheiro após as Refeições: O uso do banheiro é uma forma de esconder a purgação.
  • Exercício Excessivo: A prática de exercícios se torna uma obrigação, mesmo quando a pessoa está doente ou lesionada.
  • Oscilações de Humor: A pessoa pode ter mudanças de humor rápidas, como irritabilidade, ansiedade e depressão.
  • Isolamento Social: Evita atividades sociais que envolvem comida ou que a exponham ao julgamento dos outros.

3.2. Sintomas Físicos

  • Problemas Dentários: O ácido estomacal dos vômitos pode corroer o esmalte dos dentes, levando a cáries e sensibilidade.
  • Glândulas Salivares Inchadas: O inchaço das glândulas na mandíbula e no pescoço pode fazer com que o rosto pareça inchado.
  • Calos nos Dedos: Conhecido como Sinal de Russell, são calos ou cicatrizes nos nós dos dedos causados por vômitos autoinduzidos.
  • Problemas Gastrointestinais: Dores de estômago, refluxo e constipação.
  • Desequilíbrio Eletrolítico: A purgação constante pode levar a um desequilíbrio de eletrólitos (sódio, potássio, magnésio), o que pode causar arritmias cardíacas, parada cardíaca e outros problemas de saúde graves.

4. Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico da bulimia nervosa é feito por um psiquiatra ou um psicólogo clínico experiente, através de uma avaliação completa do histórico do paciente e dos sintomas relatados. O tratamento é complexo, de longo prazo e requer uma abordagem multidisciplinar.

4.1. Psicoterapia

A psicoterapia é a primeira linha de tratamento para a bulimia nervosa. O objetivo é ajudar o paciente a romper o ciclo de compulsão e purgação, a desenvolver uma relação saudável com a comida e a tratar as causas emocionais subjacentes.

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): É a terapia mais eficaz para a bulimia nervosa. A TCC ajuda o paciente a:
    • Normalizar os Padrões Alimentares: Estabelecer uma rotina alimentar regular e saudável para evitar a fome extrema que leva à compulsão.
    • Identificar e Mudar Crenças: Desafiar e reestruturar pensamentos distorcidos sobre o corpo, peso e alimentação.
    • Desenvolver Habilidades de Enfrentamento: Ensinar estratégias para lidar com a ansiedade, a raiva e a tristeza sem recorrer à compulsão ou à purgação.
  • Terapia Interpessoal: Foca em melhorar os relacionamentos e resolver conflitos que podem estar contribuindo para o transtorno.

4.2. Farmacoterapia

A medicação é um complemento à terapia e deve ser sempre prescrita e monitorada por um psiquiatra.

  • Antidepressivos: Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) são os medicamentos mais utilizados para tratar a bulimia nervosa. Eles ajudam a reduzir a frequência dos episódios de compulsão e purgação, além de tratar comorbidades como a depressão e a ansiedade.

4.3. Acompanhamento Nutricional e Médico

O tratamento envolve uma equipe de profissionais.

  • Nutricionista: Um nutricionista especializado em transtornos alimentares é fundamental para ajudar a pessoa a restabelecer uma relação saudável com a comida, sem dietas restritivas e sem culpa.
  • Acompanhamento Médico: O médico deve monitorar constantemente a saúde física do paciente, especialmente os níveis de eletrólitos, a saúde do coração e o sistema gastrointestinal.

5. Conclusão

A bulimia nervosa é uma doença séria e complexa, mas é totalmente tratável. A recuperação é um processo gradual que exige coragem, paciência e o apoio de uma equipe de profissionais qualificados. A chave para a recuperação é a busca por ajuda, a interrupção do ciclo de compulsão e purgação, e o tratamento das questões emocionais e psicológicas subjacentes. O apoio da família e dos amigos é crucial. O objetivo final é não apenas a recuperação física, mas a construção de uma vida plena, com uma relação saudável com o próprio corpo e com a comida.

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O diagnóstico e o laudo médico são emitidos apenas por um psiquiatra. Um psicólogo pode trabalhar com a hipótese diagnóstica, uma ferramenta crucial para a terapia. Em nosso site, você encontra profissionais especialistas em ajudar a compreender o que você sente e a iniciar um tratamento em conjunto, colaborando para o seu bem-estar.

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Fontes e referências

Organização Mundial da Saúde (OMS): CID-11 - International Classification of Diseases 11th Edition. 6B81 - Bulimia Nervosa.

American Psychiatric Association (APA): DSM-5-TR - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição, Texto Revisado.

National Eating Disorders Association (NEDA): Organização que pesquisa e fornece informações sobre transtornos alimentares.

Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP): Diretrizes e artigos sobre diagnóstico e tratamento de transtornos alimentares.

Ministério da Saúde do Brasil: Informações sobre saúde mental e transtornos alimentares.

Foto de SHVETS production: https://www.pexels.com/pt-br/foto/fita-metrica-em-escala-de-pesagem-6975469/

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