O apego é um conceito central na psicologia que descreve o vínculo emocional profundo e duradouro que se forma entre pessoas, especialmente entre crianças e seus cuidadores principais. Mais do que uma simples preferência, ele representa uma necessidade inata de proximidade, segurança e conforto emocional, essencial para o desenvolvimento saudável. Para quem está buscando entender o que é apego na psicologia ou como o apego influencia relacionamentos adultos, é importante saber que ele não é apenas sobre infância — seus padrões moldam como nos conectamos ao longo da vida, afetando nossa autoestima, confiança e capacidade de lidar com separações ou intimidade.
Como o apego se forma na infância: A teoria clássica
A teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby e ampliada por Mary Ainsworth, explica que o apego surge como um mecanismo evolutivo de sobrevivência. Bebês nascem programados para buscar proximidade com figuras de proteção, emitindo sinais como choro ou sorriso para garantir cuidados. Bowlby, em seus trabalhos na OMS (1951-1969), descreveu o apego como um sistema comportamental inato que promove a segurança.
Mary Ainsworth, por meio do experimento "Situação Estranha" (1970s), identificou padrões de apego observáveis em crianças de 12-18 meses. Esses padrões não são diagnósticos isolados, mas indicam a qualidade do vínculo:
- apego Seguro: A criança explora o ambiente confiante, usa o cuidador como base segura e se recupera rapidamente de estresse (cerca de 60-70% das crianças em estudos transculturais).
- apego Inseguro-Ansioso/Ambivalente: A criança mostra angústia intensa na separação e resistência ao reconforto (cerca de 10-15%).
- apego Inseguro-Evitativo: A criança evita o cuidador, minimizando emoções (cerca de 15-20%).
- apego Desorganizado: Padrão inconsistente, associado a trauma ou abuso (cerca de 10-15%, adicionado por Main e Solomon em 1986).
Esses padrões são influenciados pela sensibilidade do cuidador, conforme diretrizes da OMS sobre desenvolvimento infantil precoce.
O apego sob a perspectiva clínica: DSM-5-TR e CID-11
Embora o "apego" não seja um transtorno diagnosticado isoladamente no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR, American Psychiatric Association, 2022), padrões inseguros são fatores de risco para transtornos mentais. Por exemplo, o Transtorno de apego Reativo (código F94.1 no DSM-5-TR) ocorre em crianças institucionalizadas com privação severa, manifestando inibição emocional ou hipervigilância. Sintomas incluem:
- Retração social ou medo excessivo de estranhos (critério A).
- Falha em buscar conforto quando angustiado (critério B).
- Histórico de negligência ou mudanças frequentes de cuidadores (critério D).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), na CID-11 (Classificação Internacional de Doenças, 11ª revisão), classifica o Transtorno de apego Reativo sob 6B44 e o Transtorno de Engajamento Social Desinibido (6B45), enfatizando impactos de cuidados inadequados na primeira infância. O mhGAP (Programa de Ação em saúde mental da OMS, atualizado em 2016) reconhece padrões de apego inseguros como indicadores de risco para problemas emocionais, recomendando intervenções precoces para promover vínculos seguros.
O que influencia a formação do apego seguro ou inseguro?
A qualidade do apego depende da consistência e responsividade do ambiente. Conforme o Relatório Mundial de saúde mental da OMS (2022) e estudos longitudinais (como o Minnesota Study of Risk and Adaptation), fatores incluem:
- Sensibilidade do Cuidador: Respostas rápidas e empáticas a sinais da criança promovem apego seguro (evidência de Ainsworth).
- estresse Parental ou Adversidades: depressão materna, pobreza ou violência doméstica aumentam risco de apego inseguro (fatores de risco no mhGAP da OMS).
- Experiências Precoces: Separações prolongadas ou institucionalização (código QE81 na CID-11 para privação de cuidados).
- Fatores Genéticos e Temperamentais: Interagem com o ambiente, mas não determinam sozinhos (perspectiva bioecológica de Bowlby).
- Cultura e Contexto: Padrões variam transculturalmente, mas a necessidade de base segura é universal (estudos da OMS em contextos globais).
Esses elementos destacam que o apego é moldável, especialmente com intervenções oportunas.
Como o apego afeta adultos e relacionamentos: Dicas para identificar e melhorar
Padrões de infância persistem na vida adulta, influenciando relacionamentos amorosos e como lidar com apego ansioso em adultos. Estratégias endossadas pelo mhGAP da OMS e evidências do DSM-5-TR ajudam a promover apego seguro como complemento à terapia:
- Identifique Seu Padrão: Reflita sobre reações em separações ou conflitos — medo de abandono sugere ansioso; evitação sugere evitativo (use escalas validadas como ECR-R, mas consulte profissional).
- Busque Terapia Especializada: Abordagens como Terapia Focada em Emoções ou EMDR ajudam a reprocessar padrões inseguros (recomendação no mhGAP para adultos com histórico de trauma).
- Cultive Comunicação Aberta: Em relacionamentos, expresse necessidades de forma clara para construir confiança mútua.
- Pratique Autoconsciência: mindfulness e diário emocional ajudam a regular respostas automáticas (evidências no Relatório da OMS).
- Construa Redes de Suporte: Relações seguras fora do par romântico reforçam resiliência (fatores protetores na CID-11).
- Intervenções Parentais: Para pais, programas como Circle of Security promovem sensibilidade (endossados pela OMS).
Ao entender o que é apego e trabalhar padrões, você investe em conexões mais saudáveis e em bem-estar emocional duradouro. Lembre-se: mudanças são possíveis em qualquer idade, e buscar um psicólogo é um passo corajoso e transformador — você merece vínculos que nutram sua segurança interior.
Fontes e referências
DSM-5-TR (APA, 2022); CID-11 e mhGAP (OMS); Relatório Mundial de Saúde Mental (OMS, 2022); Teoria do Apego de Bowlby (OMS, 1951) e Ainsworth (1978)
Foto de Tatiana Syrikova: https://www.pexels.com/pt-br/foto/amor-fofo-bonitinho-jogando-3933513/
