Você já sentiu a doce paz de estar sozinho, um refúgio da barulheira do mundo, um tempo para se reconectar consigo mesmo. Ou, por outro lado, já experimentou o vazio gelado da solidão que aperta o peito, mesmo em meio a uma multidão. Ser "só" é um espectro vasto, com polaridades que afetam profundamente nossa saúde mental. Há uma diferença crucial entre a solidão escolhida, uma fonte de criatividade e autoconhecimento, e o abandono social, um potente fator de adoecimento que a ciência nos ajuda a diferenciar.
A Análise Experimental do Comportamento (AEC), com os estudos de B.F. Skinner, nos ensina que somos seres que respondem a contingências sociais. A interação com outros é, para a maioria das pessoas, um poderoso reforçador social. Receber atenção, afeto e suporte fortalece comportamentos pró-sociais. Quando escolhemos estar sozinhos, essa decisão é, muitas vezes, reforçada pela autonomia e pela redução de estímulos aversivos (como a sobrecarga de informações ou as demandas sociais). Essa solitude é uma escolha ativa, um comportamento que produz alívio e bem-estar.
No entanto, quando a ausência de interação não é uma escolha, mas uma imposição, entramos no território do abandono social. Aqui, a falta de reforçadores sociais (atenção, carinho) age como uma punição por remoção. A ausência do que é vital para nossa espécie gera angústia. O indivíduo tenta se aproximar, mas suas tentativas não são reforçadas, levando a uma diminuição progressiva desses comportamentos e ao desenvolvimento de um senso de desamparo aprendido.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), com o foco de Aaron Beck nas distorções cognitivas, ilumina o diálogo interno da solidão patológica. Aqueles que se sentem abandonados frequentemente ativam pensamentos automáticos como "ninguém se importa comigo" ou "eu não sou interessante o suficiente". Essas são inferências arbitrárias, onde a ausência de contato é interpretada de forma pessoal e negativa, levando a crenças centrais de desamor e desvalia. A pessoa não apenas se sente sozinha, mas acredita que merece estar sozinha ou que sempre estará sozinha.
A distinção entre solidão e isolamento social é tão crítica que é abordada por manuais diagnósticos. Embora a solidão não seja um transtorno mental por si só, o DSM-5-TR reconhece o isolamento social como um fator de risco ou um sintoma significativo em diversos transtornos, incluindo depressão maior e transtornos de ansiedade social. A Classificação Internacional de Doenças (CID-11), da Organização Mundial da Saúde (OMS), vai além, salientando que a falta de suporte social é um determinante social da saúde que predispõe a uma série de problemas físicos e mentais, incluindo mortalidade prematura. A sensação de abandono crônico não é apenas uma emoção; é um estado de vulnerabilidade biológica e psicológica.
Neuropsicologicamente, a solidão não escolhida ativa as mesmas áreas cerebrais relacionadas à dor física. O cérebro primitivo interpreta o isolamento social como uma ameaça à sobrevivência, liberando hormônios do estresse que, em excesso, comprometem o sistema imunológico e a capacidade cognitiva. Por outro lado, a solitude bem gerenciada pode ativar o córtex pré-frontal, promovendo a reflexão, o planejamento e o autoconhecimento.
Portanto, o desafio não é evitar estar só, mas aprender a diferenciar a solidão nutritiva do isolamento tóxico. A solução envolve reestruturar as cognições distorcidas sobre o próprio valor e, comportamentalmente, buscar interações que sejam genuinamente reforçadoras, mesmo que poucas. Validar a própria necessidade de tempo consigo, ao mesmo tempo em que se busca conexão humana, é o caminho para um equilíbrio saudável.