Para a maioria das pessoas, o silêncio é simplesmente a ausência de som. No entanto, na complexidade das relações humanas, ele pode se tornar uma ferramenta poderosa e, muitas vezes, dolorosa. Existe um tipo de quietude que não é vazia, mas preenchida por uma mensagem hostil: o silêncio punitivo. Ele ocorre quando uma pessoa intencionalmente ignora a outra, deixando mensagens sem resposta ou se recusando a dialogar, gerando um profundo sofrimento emocional.
Essa dinâmica é uma forma de comunicação não-verbal que pode ser mais devastadora que uma agressão verbal. Como aponta o linguista Adam Jaworski, o silêncio tem poder e função social. Quando usado para punir, ele comunica rejeição e invalidação (Jaworski, 2000). A pessoa que o recebe fica em um limbo, sem respostas e frequentemente se culpando, o que mina sua autoestima e afeta diretamente sua saúde mental. A mente humana tem dificuldade em lidar com o vácuo, e na ausência de informações, ela tende a preenchê-lo com os piores cenários, alimentando a ansiedade e a sensação de abandono.
O psicólogo Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho explora em sua obra como o silêncio se relaciona com nossa experiência psíquica interna (Junqueira Filho, 2013). O silêncio imposto pelo outro pode nos isolar em nossa própria mente, criando uma prisão de pensamentos ruminativos e angústia. Segundo a perspectiva de Eni Orlandi, o silêncio nunca é neutro; ele produz sentidos (Orlandi, 2007). Nesse caso, o sentido produzido é o da exclusão. Reconhecer que o silêncio pode ser uma forma de agressão passiva é o primeiro passo para entender a dor que ele causa e proteger nosso bem-estar emocional.
JAWORSKI, Adam (Org.). Silence: Interdisciplinary Perspectives. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000.
JUNQUEIRA FILHO, Luiz Carlos Uchôa. Silêncio e Luzes: Sobre a Experiência Psíquica. São Paulo: Blucher, 2013.
ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 6. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.