O quadro de esgotamento extremo, codificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como QD85 (Fenômeno Ocupacional), não irrompe de forma súbita. O Burnout é a culminação de um sistema que se assemelha à formação de um furacão.
É fundamental pontuar sua classificação: na CID-10, o Burnout era descrito de forma vaga como Z73.0 (Esgotamento ou Estado de Exaustão Vital). Com a CID-11, o quadro ganha clareza com o código QD85, sendo definido como uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Embora o DSM-5 e o DSM-5-TR não o incluam como transtorno psiquiátrico formal, o colapso frequentemente leva a diagnósticos associados como Transtorno de Ajustamento.
O Burnout se assemelha à formação de um furacão. A sobrecarga atua como a área de baixa pressão que se intensifica, mantida pela ilusão de estabilidade. Quando o limite máximo é atingido, o sistema entra em colapso, alcançando a Categoria 5 da falência completa.
A calma aparente (a ausência do esgotamento agudo) não significa que o desastre acabou. É o que se vê no olho do furacão, um centro de repouso cercado pela força destrutiva das consequências.
O que se quebrou foi a estrutura que sustentava a vida. A recuperação é lenta, mas totalmente alcançável. A pressa em retomar o controle (o motor da patologia) é o principal risco que deve ser evitado para garantir a sustentabilidade da melhora.
A TCC oferece um caminho metódico para lidar com as consequências do Burnout, ancorado na reestruturação cognitiva e no engajamento gradual. O foco é na capacidade do indivíduo de reconstruir e florescer:
Disciplina da Manutenção: O foco migra da performance para a sustentabilidade. A pessoa deve internalizar que a conclusão bem-sucedida do processo resultará em uma liberdade duradoura. A reconstrução exige paciência, mas leva a um resultado muito superior ao sistema anterior.
O Burnout, em sua essência, é um grito de socorro que o sistema, esgotado pela sobrecarga e pela rigidez, não conseguiu verbalizar a tempo. A superação é uma prova de resistência que resulta em um crescimento profundo, mas exige que o indivíduo rompa o silêncio da autossuficiência.
A força não reside na urgência de se declarar apto, mas na aceitação da lentidão do processo como a chave para uma vida mais equilibrada. Os quatro passos da TCC (Análise do Custo, Desmontagem da Evitação, e a Disciplina da Manutenção) formam a fundação para construir uma resiliência inabalável e evitar a repetição do colapso. O foco na disciplina de manutenção, e não na performance, é a única forma de garantir que o sistema não volte a se calar sob pressão.
Referências Bibliográficas
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5-TR). 5th ed. Text Revision. Arlington: American Psychiatric Publishing, 2022.
- BECK, Aaron T. Terapia Cognitiva da Depressão. Porto Alegre: Artmed, 1997.
- KNAPP, Paulo (Org.). Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Clínica. Porto Alegre: Artmed, 2004.
- WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). International Classification of Diseases 11th Revision (ICD-11). Geneva: WHO, 2019.