Suzane Martins Brancaglioni

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O Que é o Transtorno Bipolar? (CID-11: 6A60)

Uma Análise Aprofundada sobre os Ciclos de Humor e o Tratamento

Por Suzane Martins Brancaglioni | Atualizado em 18/09/2025 | 8m

Transtorno Bipolar Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

O Transtorno Bipolar é uma condição mental crônica e grave, caracterizada por oscilações extremas e recorrentes no humor, energia e capacidade de funcionamento. Essas oscilações vão de picos de euforia e energia (mania ou hipomania) a períodos de tristeza profunda e falta de energia (depressão). Ao contrário das mudanças de humor comuns do dia a dia, as oscilações bipolares são tão intensas que impactam a vida profissional, os relacionamentos e a segurança do indivíduo. É um transtorno cerebral com base neurobiológica, e não uma falha de caráter ou uma escolha.

1. O Que é o Transtorno Bipolar? (CID-11: 6A60)

O Transtorno Bipolar é um diagnóstico que se enquadra na categoria de transtornos de humor. Ele é definido pela presença de episódios de humor distintos: mania, hipomania e depressão.

  • Critérios Diagnósticos (CID-11 e DSM-5):
    • Episódios de Mania: São períodos de humor anormalmente e persistentemente elevado, eufórico, expansivo ou irritável. Esse humor é acompanhado por um aumento da energia, da atividade e por uma série de sintomas que duram, no mínimo, uma semana e que causam um prejuízo significativo.
    • Episódios de Hipomania: É uma forma mais leve da mania. O humor e a energia são elevados, mas os sintomas não são graves o suficiente para causar um prejuízo funcional acentuado ou para exigir hospitalização. A hipomania dura, no mínimo, quatro dias.
    • Episódios de Depressão: São períodos de humor persistentemente deprimido e de perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades. O episódio depressivo bipolar é idêntico ao de uma depressão maior e dura, no mínimo, duas semanas.

2. Tipos de Transtorno Bipolar

A classificação dos tipos de bipolaridade depende da natureza e da intensidade dos episódios de humor que o indivíduo experimenta. A diferenciação é crucial para o diagnóstico preciso e para a escolha do tratamento.

  • Transtorno Bipolar I: O diagnóstico é feito quando a pessoa tem um ou mais episódios de mania. Os episódios de depressão maior não são obrigatórios para o diagnóstico, mas são extremamente comuns. É a forma mais grave do transtorno, e os episódios de mania podem levar a hospitalizações.
  • Transtorno Bipolar II: O diagnóstico é feito quando a pessoa tem um ou mais episódios de depressão maior e, no mínimo, um episódio de hipomania. O indivíduo nunca teve um episódio de mania completa.
  • Ciclotimia (CID-11: 6A63): É uma forma crônica e mais branda de transtorno bipolar. É caracterizada por oscilações de humor que incluem vários períodos de sintomas hipomaníacos e vários períodos de sintomas depressivos. Os sintomas não são graves o suficiente para cumprir os critérios completos de um episódio de mania ou de depressão maior.

3. O Ciclo da Bipolaridade

A vida de uma pessoa com transtorno bipolar é marcada por um ciclo de extremos de humor. A transição entre os estados de mania/hipomania e depressão pode ser abrupta ou gradual.

3.1. Episódios de Mania e Hipomania

Os episódios de mania são como um "acelerador" que está ativado ao máximo. O indivíduo sente-se no topo do mundo, mas essa sensação pode rapidamente se transformar em irritabilidade ou agressividade. Os principais sintomas são:

  • Humor Elevado ou Irritabilidade: A pessoa sente-se eufórica, grandiosa e com energia ilimitada, ou se torna extremamente irritável e impaciente.
  • Aumento da Energia e Redução da Necessidade de Sono: O indivíduo pode ficar dias sem dormir ou dormindo muito pouco, sem se sentir cansado.
  • Grandiosidade: Uma crença inflada de suas próprias capacidades e importância.
  • Fuga de Ideias: O pensamento se torna acelerado, e a pessoa salta de um assunto para o outro rapidamente.
  • Falas Compulsivas: Falar excessivamente, com a voz alta e sem pausas.
  • Comportamento de Risco: Envolvimento em atividades impulsivas e perigosas, como gastar dinheiro em excesso, envolver-se em relações sexuais de risco ou dirigir em alta velocidade.

3.2. Episódios de Depressão

A fase depressiva é o oposto da mania. É um período de desânimo, tristeza profunda e falta de energia. Os principais sintomas são:

  • Humor Deprimido: Sentimento de tristeza, desesperança ou vazio.
  • Perda de Interesse e Prazer: O indivíduo perde o interesse em atividades que antes lhe davam prazer (anedonia).
  • Fadiga Extrema: Falta de energia e uma sensação de cansaço profundo.
  • Alterações no Sono e no Apetite: A pessoa pode dormir demais ou de menos e ter um aumento ou uma perda de peso significativa.
  • Pensamentos de Morte ou Suicídio: Um dos sintomas mais perigosos e que exige atenção imediata.

4. Causas e Fatores de Risco

O Transtorno Bipolar é uma condição neurobiológica complexa, com uma forte base genética e biológica. Não é uma condição causada por "fraqueza mental" ou por uma má criação.

4.1. Fatores Biológicos e Genéticos

  • Genética: O risco de desenvolver Transtorno Bipolar é cerca de dez vezes maior em pessoas que têm um parente de primeiro grau com a condição.
  • Neurobiologia: A pesquisa aponta para disfunções em circuitos cerebrais que regulam o humor, a motivação e o sono. As áreas do cérebro mais afetadas são o córtex pré-frontal, que regula a tomada de decisões, e a amígdala, que regula as emoções.
  • Neurotransmissores: O transtorno está ligado a um desequilíbrio na produção e na regulação de neurotransmissores como a dopamina, a noradrenalina e a serotonina, que são responsáveis pela regulação do humor e da energia.

4.2. Fatores Ambientais

  • Eventos de Vida Estressantes: Eventos estressantes (como a perda de um emprego ou de um ente querido) podem atuar como gatilhos para um episódio de mania ou de depressão.
  • Padrões de Sono: A privação de sono é um dos gatilhos mais comuns para um episódio de mania.
  • Uso de Substâncias: O uso de álcool e drogas pode desestabilizar o humor e causar um episódio.

5. Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico de Transtorno Bipolar é feito por um profissional de saúde mental (psiquiatra ou neurologista) e requer uma avaliação completa da história clínica e dos sintomas do paciente. Não existe um exame de sangue ou uma ressonância magnética que confirme o diagnóstico. O tratamento é complexo, de longo prazo e exige uma abordagem multidisciplinar.

5.1. Farmacoterapia: A Base do Tratamento

A medicação é a base do tratamento e é crucial para estabilizar o humor e prevenir novos episódios.

  • Estabilizadores de Humor: O lítio, o divalproato de sódio e a lamotrigina são a primeira linha de tratamento. Eles agem para prevenir tanto os episódios de mania quanto os de depressão.
  • Antipsicóticos: Medicamentos como a olanzapina e a quetiapina são usados para controlar os sintomas agudos de mania e para manter a estabilidade do humor.
  • Antidepressivos: O uso de antidepressivos é controverso e deve ser feito com cautela, pois eles podem atuar como um "gatilho" para um episódio de mania em pessoas com Transtorno Bipolar.

5.2. Psicoterapia: A Peça Essencial

A terapia é uma peça essencial no tratamento, pois ela ajuda a pessoa a lidar com os desafios emocionais e sociais da condição.

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): A TCC é uma abordagem prática que ajuda o paciente a identificar os gatilhos, a desenvolver estratégias de enfrentamento e a construir uma rotina saudável para estabilizar o humor.
  • Psicoterapia Psicodinâmica: Essa abordagem se aprofunda nos conflitos e nas experiências passadas que podem ter contribuído para a vulnerabilidade emocional, ajudando a pessoa a se entender de forma mais completa.
  • Terapia Interpessoal e de Ritmo Social (IPSRT): Focada em ajudar o paciente a manter uma rotina diária regular (de sono, alimentação e socialização), o que é crucial para a estabilidade do humor.

6. Conclusão

O Transtorno Bipolar é uma condição de saúde mental séria e, sem tratamento, pode levar a um grande sofrimento. No entanto, com o diagnóstico correto, a adesão ao tratamento e o apoio de uma equipe de profissionais, é totalmente possível que o indivíduo tenha uma vida plena e estável. A chave é reconhecer os sinais, buscar ajuda e entender que a bipolaridade é uma condição que pode ser gerenciada com sucesso.

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O diagnóstico e o laudo médico são emitidos apenas por um psiquiatra. Um psicólogo pode trabalhar com a hipótese diagnóstica, uma ferramenta crucial para a terapia. Em nosso site, você encontra profissionais especialistas em ajudar a compreender o que você sente e a iniciar um tratamento em conjunto, colaborando para o seu bem-estar.

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Fontes e referências

Organização Mundial da Saúde (OMS): CID-11 - International Classification of Diseases 11th Edition. 6A60 - Transtorno Bipolar ou Transtorno Relacionado.

American Psychiatric Association (APA): DSM-5-TR - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição, Texto Revisado.

Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP): Diretrizes sobre diagnóstico e tratamento de transtornos de humor.

National Institute of Mental Health (NIMH): Informações sobre transtornos de humor e pesquisas sobre bipolaridade.

Foto de Maria Clara Alvarenga: https://www.pexels.com/pt-br/foto/preto-e-branco-p-b-mulher-retrato-12816409/

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