Educar uma criança é, muitas vezes, sentir-se caminhando em uma corda bamba. De um lado, o medo de ser duro demais e repetir a rigidez de gerações passadas; do outro, o receio de ser "bonzinho" demais e criar pequenos imperadores que não sabem ouvir "não". Fica a dúvida cruel: eu devo ser o melhor amigo do meu filho ou o chefe da casa? A psicologia moderna traz uma resposta aliviadora: você não precisa escolher. O caminho mais saudável não é nem o do punho de ferro, nem o do "liberou geral". O segredo está na chamada parentalidade assertiva. O estilo "General": quando a ordem vira medo
Imagine um quartel. As regras são claras, a hierarquia é rígida e questionamentos não são tolerados. Esse é o estilo autoritário. Pais que adotam essa postura acreditam que o respeito se conquista pela imposição. "Porque eu disse e ponto final".
Embora a obediência seja imediata, o preço emocional é alto. A ciência do comportamento, liderada por B.F. Skinner, nos alerta que educar através do medo (coerção) ensina a criança a esconder o erro para não ser punida, e não a entender por que aquilo é errado. A criança obedece não por consciência, mas por sobrevivência. A longo prazo, isso pode criar adultos ansiosos, que têm medo de tomar decisões sozinhos ou que se rebelam explosivamente na adolescência. O estilo "Garçom": servindo todos os desejos
No extremo oposto, temos os pais que agem como garçons em um restaurante de luxo: a missão é garantir que o cliente (a criança) esteja sempre satisfeito, nunca frustrado. É o estilo permissivo. Aqui, o amor transborda, mas as regras são frouxas ou inexistentes.
A armadilha aqui é sutil. Aaron Beck, da Terapia Cognitivo-Comportamental, diria que estamos ensinando à criança uma crença falsa sobre o mundo: a de que seus desejos são ordens e que a frustração é algo insuportável. O problema é que a vida fora de casa não funciona assim. Crianças que nunca ouvem "não" perdem a chance de treinar seu "músculo da frustração". Elas se tornam inseguras porque, no fundo, a falta de limites dá a sensação de que ninguém está no comando do barco. O estilo "Treinador": o equilíbrio da autoridade assertiva
O estilo ideal, validado por décadas de estudos, é o assertivo (ou democrático). Pense em um bom treinador esportivo ou um professor inesquecível: eles exigem esforço e têm regras claras, mas torcem por você, acolhem sua dor quando você perde e explicam onde você errou para que possa melhorar.
Na prática, é o pai ou a mãe que diz: "Eu entendo que você está triste por desligar o videogame, é chato mesmo parar de brincar (afeto/validação). Mas combinamos que agora é hora do banho, então precisa desligar (limite/regra)".
Nesse modelo, a criança se sente ouvida, o que reduz a birra, mas entende que existe uma hierarquia segura. O cérebro infantil precisa desse contorno. O afeto nutre a autoestima, e o limite traz a segurança. Conclusão
Não existe pai ou mãe perfeito, e todos nós oscilamos entre o "general" e o "garçom" em dias ruins. Mas o objetivo é tentar ficar no meio do caminho na maior parte do tempo. A parentalidade assertiva não é sobre ter filhos que não choram ou não reclamam, mas sobre criar um ambiente onde eles saibam que são profundamente amados, e justamente por isso, serão guiados com firmeza para a vida adulta.
Trocar o grito pela conversa e a permissividade pela consistência dá trabalho, mas o resultado é a construção de uma relação baseada em respeito mútuo, e não em medo ou em mimos.