A matemática do desejo: decifrando o código oculto da atração

Por que a estabilidade emocional e a reciprocidade pesam mais que a beleza física na balança do amor

Por Eduardo Brancaglioni Marquetti Lazaro, CRP 06/199338

11/12/2025 às 02:40, atualizado em 11/12/2025 às 02:40

Tempo de leitura: 4m

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Eduardo Brancaglioni Marquetti Lazaro
Psicólogo
CRP 06/199338 Mogi das Cruzes/SP
Possui vagas para atendimento social

Hollywood nos vendeu a ideia de que a atração é um evento sísmico, um "raio" que cai sobre duas pessoas predestinadas, gerando uma química instantânea e incontrolável. Passamos a vida esperando por essa eletricidade estática, descartando potenciais parceiros porque "não houve faísca". No entanto, a psicologia evolutiva e as ciências do comportamento sugerem que o que chamamos de "química" é, na verdade, uma complexa equação de familiaridade, segurança e reforço positivo. O que realmente atrai um ser humano a outro não é o mistério, mas a previsibilidade do afeto; e o que repele não é a feiura, mas a inconsistência. O algoritmo do reforço: amamos como nos sentimos

Para entender a base da atração, devemos revisitar B.F. Skinner e a Análise Experimental do Comportamento. Skinner postulou que todo comportamento é mantido por suas consequências. Aplicando isso às relações, a dura verdade é que raramente nos apaixonamos pela "alma" do outro em um vácuo; apaixonamo-nos por como o outro nos faz sentir.

Isso é o que chamamos de reforço positivo social. Sentimo-nos atraídos por pessoas que, através da escuta ativa, do sorriso e da validação, aumentam nossa autoestima e sensação de segurança. A pessoa atraente, sob a ótica comportamental, é aquela que se torna um estímulo discriminativo para o prazer e o relaxamento. Por outro lado, o maior repelente humano é a punição ou a extinção (o ignorar). Pessoas que criticam constantemente, que são sarcásticas ou indiferentes, tornam-se estímulos aversivos. O cérebro, programado para a sobrevivência, ativa o sistema de fuga diante de alguém que nos faz sentir inadequados, independentemente da beleza física dessa pessoa. A armadilha da "química" e os esquemas cognitivos

Muitas vezes, confundimos atração com ansiedade. Aaron Beck, fundador da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), explica que somos guiados por esquemas — estruturas mentais formadas na infância sobre como o amor deve ser. Se crescemos em um ambiente onde o amor era imprevisível ou caótico, tendemos a sentir "química" justamente por pessoas que replicam esse caos.

Imagem do artigo: A matemática do desejo: decifrando o código oculto da atração

Jeffrey Young, que expandiu os conceitos de Beck na Terapia do Esquema, chama isso de "química do esquema". Sentimos uma atração magnética por parceiros que confirmam nossas crenças centrais negativas (como a de que seremos abandonados ou de que não somos bons o suficiente). Nesse cenário, a estabilidade de um parceiro seguro e disponível pode parecer "entediante". O que a psicologia propõe é uma reeducação do desejo: aprender que a verdadeira atração saudável reside na calmaria e na confiança, não na montanha-russ emocional. O "frio na barriga" muitas vezes é apenas o sistema de alerta do corpo sinalizando perigo, não amor. Sinais de honestidade e a beleza da previsibilidade

Do ponto de vista da psicologia evolutiva, o traço mais atraente a longo prazo não é a simetria facial ou a riqueza, mas a bondade e a confiabilidade. Nossos ancestrais que escolheram parceiros instáveis ou egoístas tiveram menos sucesso reprodutivo e de sobrevivência.

Hoje, traduzimos isso como responsabilidade afetiva. O que repele, de forma visceral, é a inconsistência, o parceiro que é carinhoso na segunda-feira e frio na terça-feira. Esse comportamento gera um reforço intermitente, que embora vicie (como em jogos de azar), destrói a confiança basal necessária para o apego seguro. A atração sólida é construída na certeza de que o outro estará lá. A vulnerabilidade compartilhada, quando acolhida, gera oxitocina, o hormônio do vínculo. Portanto, ser atraente é, fundamentalmente, ser um porto seguro em um mundo caótico. Conclusão

A verdadeira atração é uma competência que vai muito além da genética. Enquanto a aparência pode abrir a porta, é o comportamento que convida a entrar e ficar. O "segredo" magnético que tantos buscam não está em jogos de sedução ou em fazer-se de difícil, mas na coragem de ser autêntico, consistente e gentil.

Ao substituirmos a busca frenética pela "química de cinema" pela valorização da "física do afeto", onde a ação gera reação de cuidado, descobrimos que o amor mais atraente é aquele que não nos tira o sono, mas aquele que nos permite descansar.

Referências
 
BUSS, David M. A Evolução do Desejo: Estratégias de Acasalamento Humano. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

BECK, Aaron T. O Amor não é Tudo: Como evitar equívocos e construir relacionamentos duradouros. Porto Alegre: Artmed, 1995.

SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e Comportamento Humano. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

YOUNG, Jeffrey E.; KLOSKO, Janet S. Reinventando a sua vida. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2020. 

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