Suzane Martins Brancaglioni

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Transtornos de Ansiedade (CID-11: 6B00-6B0Z)

Por Suzane Martins Brancaglioni | Atualizado em 10/09/2025 | 9m

Ansiedade Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

Os transtornos de ansiedade são um grupo de condições de saúde mental caracterizadas por sentimentos de medo, ansiedade e preocupação excessivos e persistentes. Diferentemente da ansiedade normal, que é uma resposta adaptativa a situações de estresse, os transtornos de ansiedade causam sofrimento significativo e interferem de forma grave no funcionamento diário do indivíduo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a American Psychiatric Association (APA) classificam e definem esses transtornos para guiar o diagnóstico e o tratamento.

1. Classificação e Diagnóstico (CID-11 e DSM-5)

A classificação dos transtornos de ansiedade é fundamental para diferenciar as diversas manifestações clínicas e orientar o tratamento adequado. A CID-11 e o DSM-5 são as principais referências mundiais para este fim.

1.1. Critérios da Classificação Internacional de Doenças (CID-11)

A CID-11 agrupa os transtornos de ansiedade sob a categoria "Transtornos Relacionados à Ansiedade ou ao Medo" (códigos 6B00-6B0Z). Os principais transtornos incluem:

  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (6B00): Caracterizado por preocupação crônica, excessiva e difícil de controlar, que ocorre na maioria dos dias, por no mínimo seis meses. Essa preocupação não se restringe a um tema específico e pode englobar várias áreas da vida, como saúde, trabalho, finanças e família. Sintomas físicos e cognitivos acompanham a preocupação:
    • Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele.
    • Fadiga fácil e cansaço constante.
    • Dificuldade de concentração ou sensação de "branco" na mente.
    • Irritabilidade e tensão muscular.
    • Perturbação do sono (dificuldade em adormecer ou manter o sono, ou sono insatisfatório).
  • Transtorno de Pânico (6B01): Consiste em crises de pânico recorrentes e inesperadas, que são períodos de medo ou desconforto intenso que atingem o pico em minutos. Durante uma crise, a pessoa experimenta, no mínimo, quatro dos seguintes sintomas:
    • Palpitações, taquicardia ou aceleração da frequência cardíaca.
    • Suor excessivo e tremores ou abalos.
    • Sensações de falta de ar, asfixia ou sufocamento.
    • Dor ou desconforto no peito.
    • Náusea ou desconforto abdominal.
    • Tontura, instabilidade, vertigem ou sensação de desmaio.
    • Calafrios ou ondas de calor.
    • Parestesias (sensações de formigamento ou amortecimento).
    • Sensação de irrealidade (desrealização) ou de estar desligado de si mesmo (despersonalização).
    • Medo de perder o controle, de enlouquecer ou de morrer.
  • Agorafobia (6B02): É o medo ou a ansiedade marcados por situações onde seria difícil escapar ou receber ajuda caso ocorra uma crise de pânico. A agorafobia envolve o medo de, no mínimo, duas das cinco situações a seguir:
    • Usar transporte público.
    • Estar em espaços abertos (estacionamentos, pontes).
    • Estar em lugares fechados (lojas, cinemas).
    • Ficar em uma fila ou no meio de uma multidão.
    • Sair de casa sozinho.
  • Fobia Específica (6B03): Medo ou ansiedade intensa e desproporcional em relação a um objeto ou situação específica (por exemplo, altura, animais, voar, injeções). A exposição ao estímulo fóbico quase sempre provoca ansiedade imediata e a pessoa evita ativamente o objeto ou a situação temida.
  • Transtorno de Ansiedade Social (6B04): Medo ou ansiedade significativos de situações sociais nas quais a pessoa pode ser avaliada negativamente por outras pessoas. O medo pode estar relacionado a interações sociais (ter conversas, conhecer pessoas novas), ser observado (comendo ou bebendo), ou se apresentar em público. A pessoa teme que seus sintomas de ansiedade (rubor facial, gagueira, tremores) sejam vistos, causando constrangimento ou humilhação.

1.2. Critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5)

O DSM-5 (American Psychiatric Association) tem critérios de diagnóstico muito semelhantes aos da CID-11, sendo amplamente utilizado na prática clínica. Ele organiza os transtornos em categorias separadas: Transtorno de Ansiedade de Separação, Mutismo Seletivo, Fobia Específica, Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social), Transtorno de Pânico, Agorafobia e Transtorno de Ansiedade Generalizada.

  • Requisito comum: Para o diagnóstico de qualquer transtorno de ansiedade, o medo ou a ansiedade devem ser persistentes, tipicamente durando seis meses ou mais, e causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo em áreas importantes da vida.

2. Epidemiologia e Fatores de Risco

Os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns, com uma alta prevalência global. No Brasil, os dados são particularmente alarmantes.

2.1. Fatores Genéticos e Biológicos

A predisposição genética é um fator significativo. Estudos mostram que há uma herança familiar para os transtornos de ansiedade, embora não haja um único gene responsável. O risco de desenvolver um transtorno de ansiedade é cerca de 2 a 3 vezes maior em familiares de primeiro grau de indivíduos com a condição. Fatores neurobiológicos também desempenham um papel crucial:

  • Neurotransmissores: Alterações na regulação de neurotransmissores como a serotonina, a noradrenalina e o GABA (ácido gama-aminobutírico) são associadas aos sintomas de ansiedade.
  • Estruturas cerebrais: Regiões cerebrais como a amígdala (responsável pelo processamento do medo), o hipocampo e o córtex pré-frontal estão frequentemente hiperativas ou disfuncionais em pessoas com transtornos de ansiedade.

2.2. Fatores Ambientais e de Estilo de Vida

Eventos de vida estressantes e traumáticos são gatilhos poderosos para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade.

  • Eventos traumáticos: Experiências como violência, abuso, acidentes ou perdas significativas podem levar ao desenvolvimento de transtornos como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) ou Transtorno de Ansiedade Generalizada.
  • Estresse crônico: O estresse persistente no trabalho, na escola ou nos relacionamentos pode sobrecarregar o sistema de resposta ao estresse do corpo, levando à manifestação de sintomas de ansiedade.
  • Uso de substâncias: O consumo de álcool, cafeína e drogas ilícitas pode exacerbar os sintomas de ansiedade e, em alguns casos, desencadear crises de pânico.

3. Tratamento e Gestão dos Transtornos de Ansiedade

Os transtornos de ansiedade são altamente tratáveis, e a maioria dos pacientes responde bem a uma combinação de psicoterapia e farmacoterapia.

3.1. Psicoterapia

A terapia é o tratamento de primeira linha para a maioria dos transtornos de ansiedade.

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): É a modalidade de terapia mais estudada e eficaz para os transtornos de ansiedade. A TCC ajuda o indivíduo a identificar, desafiar e modificar pensamentos e crenças disfuncionais que perpetuam a ansiedade.
    • Terapia de Exposição: É um componente central da TCC, especialmente para fobias e Transtorno de Pânico. O paciente é gradualmente exposto, de forma controlada e segura, ao objeto ou à situação que causa medo, permitindo que ele aprenda a gerenciar a ansiedade e a perceber que a situação não é tão perigosa quanto parecia.
  • Terapia Interpessoal: Foca em como a ansiedade afeta e é afetada pelos relacionamentos do indivíduo. Ajuda a desenvolver habilidades de comunicação e a lidar com conflitos interpessoais.
  • Mindfulness (Atenção Plena): Ajuda o paciente a focar no momento presente, a aceitar os sentimentos ansiosos sem julgamento e a reduzir a ruminação e a preocupação com o futuro.

3.2. Farmacoterapia

O tratamento medicamentoso é prescrito por um psiquiatra e pode ser usado sozinho ou em combinação com a psicoterapia, dependendo da gravidade dos sintomas.

  • Antidepressivos: São a classe de medicamentos mais comum e eficaz no tratamento de longo prazo dos transtornos de ansiedade.
    • Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): Medicamentos como sertralina, fluoxetina e escitalopram são amplamente utilizados. Eles atuam aumentando a disponibilidade de serotonina no cérebro, o que ajuda a regular o humor e a ansiedade.
    • Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (ISRSN): Medicamentos como venlafaxina e duloxetina atuam em dois neurotransmissores e são eficazes para Transtorno de Ansiedade Generalizada.
  • Ansiolíticos (Benzodiazepínicos): Medicamentos como o alprazolam e o clonazepam são muito eficazes para o alívio imediato dos sintomas agudos da ansiedade ou de uma crise de pânico. No entanto, eles podem causar dependência e, por isso, são geralmente prescritos para uso a curto prazo e com cautela.

3.3. Estilo de Vida e Suporte Social

A gestão dos transtornos de ansiedade também envolve a adoção de hábitos saudáveis.

  • Prática regular de exercícios físicos: O exercício libera endorfinas, que têm um efeito calmante e ajudam a reduzir o estresse.
  • Alimentação balanceada e sono adequado: Uma dieta saudável e uma rotina de sono consistente são fundamentais para a saúde mental.
  • Técnicas de relaxamento: Meditação, exercícios de respiração e ioga podem ajudar a acalmar o sistema nervoso e a reduzir a ansiedade.
  • Rede de apoio: Contar com amigos, familiares e grupos de apoio pode ajudar a reduzir o isolamento e a oferecer suporte emocional durante períodos difíceis.

4. Comorbidades e Desafios

Os transtornos de ansiedade raramente ocorrem isoladamente. É comum que coexistam com outras condições de saúde mental.

4.1. Depressão e Transtornos de Humor

A comorbidade mais comum dos transtornos de ansiedade é a depressão. A ansiedade pode ser um fator de risco para o desenvolvimento da depressão, e vice-versa. A presença de ambas as condições pode tornar o tratamento mais complexo.

4.2. Transtornos por Uso de Substâncias

Muitas pessoas com ansiedade tentam se automedicar com álcool ou drogas, o que pode levar ao desenvolvimento de transtornos por uso de substâncias. Essa comorbidade agrava os sintomas de ansiedade e dificulta o tratamento.

4.3. Outras Comorbidades

Transtornos de ansiedade também podem coexistir com:

  • Transtornos alimentares.
  • Transtornos de personalidade.
  • Condições médicas crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares e síndromes de dor crônica.

5. Conclusão

Os transtornos de ansiedade não são uma fraqueza de caráter, mas sim condições médicas que exigem atenção e tratamento adequados. A compreensão detalhada de suas diversas manifestações, causas e opções de tratamento é fundamental para que o paciente e a família possam gerenciar a condição de forma eficaz. Com o diagnóstico preciso, a psicoterapia e a farmacoterapia apropriadas, é possível recuperar o controle sobre a vida e reduzir o impacto da ansiedade, permitindo que o indivíduo volte a ter uma vida plena e produtiva.

Você está precisando de um diagnóstico ou laudo?

O diagnóstico e o laudo médico são emitidos apenas por um psiquiatra. Um psicólogo pode trabalhar com a hipótese diagnóstica, uma ferramenta crucial para a terapia. Em nosso site, você encontra profissionais especialistas em ajudar a compreender o que você sente e a iniciar um tratamento em conjunto, colaborando para o seu bem-estar.

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Fontes e referências

  • Organização Mundial da Saúde (OMS): CID-11 - International Classification of Diseases 11th Edition, Capítulo 06: Transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento. Acesso em 10/09/2025.
  • American Psychiatric Association (APA): DSM-5-TR - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição, Texto Revisado.
  • Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP): Diretrizes para o diagnóstico e tratamento de Transtornos de Ansiedade. Acesso em 10/09/2025.
  • National Institute of Mental Health (NIMH): Material sobre transtornos de ansiedade e pesquisas em saúde mental. Acesso em 10/09/2025.
  • Photo by İbrahim Halil Ölmez: https://www.pexels.com/photo/woman-in-emotional-distress-holding-head-29965352/

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