Como psicóloga com experiência na abordagem psicanalítica, sei que a jornada humana é constantemente marcada por um misto de prazer e dor. Entre as dores mais universais e desorganizadoras estão a ansiedade e a angústia. O olhar psicanalítico que adoto não as vê como meros sintomas a serem apagados, mas como sinais cruciais de que algo importante em nosso mundo interno precisa ser olhado e compreendido.
Eu considero fundamental a distinção entre esses dois afetos para o início de qualquer processo de alívio:
O nosso trabalho na sessão, que é realizado no conforto do espaço virtual, é transformar esse grito mudo da angústia em palavras e pensamentos. É um convite para você entender o que a sua história, as suas perdas passadas e os seus conflitos internos estão sinalizando através dessa aflição.
Essa falta de controle, que gera angústia, se manifesta de forma mais aguda quando nos deparamos com a morte e o luto. A perda de alguém ou de algo significativo (um emprego, um papel social, um projeto de vida) nos impõe um trauma, um vazio no nosso mundo.
Como profissional da psicanálise, sei que o luto não é uma doença a ser curada, mas um trabalho psíquico inevitável. Não é um estado passivo, mas uma intensa atividade interna que exige tempo e energia. O que fazemos durante o luto é, lentamente e com muita dor, desfazer os laços que ligavam a nossa energia afetiva (libido) ao que foi perdido. O objetivo não é apagar a memória, mas encontrar uma forma de guardar a lembrança e a importância do que se foi, enquanto a vida, e a capacidade de desejar, podem continuar.
Quando esse trabalho não é realizado ou é interrompido, surge o risco da melancolia. Se no luto a dor se dirige à perda do outro, na melancolia ela se volta contra o próprio sujeito. A pessoa se identifica com o objeto perdido, sente-se culpada, inútil, como se ela própria fosse a perda. É nesse ponto que a intervenção psicanalítica se torna vital, ajudando a pessoa a se desidentificar dessa dor destrutiva e a recuperar a capacidade de se amar.
O analista, nesse processo, é o testemunho paciente. Ele oferece o tempo e o espaço para que a pessoa possa elaborar a dor sem pressão, sem a obrigação de "superar" rapidamente. É uma presença que acolhe o sofrimento em sua totalidade, permitindo que a fala transforme a angústia e o vazio em um novo sentido para a vida que segue.
Freud, S. (2010). Luto e Melancolia (1917). Obras completas. (P. C. de Souza, Trad.). Companhia das Letras.
Freud, S. (2014). Inibição, Sintoma e Angústia (1926). Obras completas. (P. C. de Souza, Trad.). Companhia das Letras.
Lacan, J. (2005). O seminário, livro 10: A angústia (1962–1963). Jorge Zahar Editor.
Foto de Karola G: https://www.pexels.com/pt-br/foto/pessoa-sentado-segurando-holding-8532801/