Suzane Martins Brancaglioni

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O Que é Neurodiversidade?

Uma Análise Completa sobre Mentes Neurodivergentes

Por Suzane Martins Brancaglioni | Atualizado em 16/09/2025 | 7m

Neuropsicologia Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A neurodiversidade é um conceito que desafia a ideia tradicional de que existe um único modelo "normal" de cérebro humano. Em vez disso, ela propõe que as variações no funcionamento neurológico são uma parte natural da diversidade da espécie humana, assim como as diferenças de etnia, gênero ou orientação sexual. Indivíduos que apresentam essas variações são chamados de neurodivergentes. O objetivo da neurodiversidade não é patologizar ou curar essas condições, mas sim promover a aceitação e a inclusão, adaptando o ambiente para acomodar as necessidades de todos.

1. O Conceito de Neurodiversidade: Uma Perspectiva Inovadora

O termo neurodiversidade foi cunhado no final dos anos 1990 pela socióloga e ativista australiana Judy Singer, que defendia que o autismo e outras condições neurológicas não deveriam ser vistos como doenças a serem curadas, mas sim como variações naturais da cognição humana.

  • Neurotípicos vs. Neurodivergentes:
    • Neurotípico: É o termo usado para descrever indivíduos que possuem um desenvolvimento neurológico e um funcionamento cerebral que se encaixam no que a maioria da sociedade considera "padrão" ou "típico". Isso não significa que a pessoa seja perfeita, mas que ela não apresenta variações neurológicas significativas que afetem o seu funcionamento diário.
    • Neurodivergente: É o termo guarda-chuva que se aplica a indivíduos que apresentam um funcionamento neurológico atípico. Isso inclui uma ampla gama de condições, como Transtorno do Espectro Autista, TDAH, Dislexia, entre outras.
  • O Modelo Social da Deficiência: A neurodiversidade se baseia no modelo social da deficiência, que argumenta que as dificuldades enfrentadas pelos neurodivergentes não são inerentes à sua condição, mas sim o resultado de uma sociedade que não está preparada para acomodar as suas diferenças. Por exemplo, uma pessoa com dislexia tem dificuldades para ler em um ambiente que usa apenas o texto como forma de comunicação, mas pode se destacar em um ambiente que usa recursos audiovisuais ou práticos.

2. Principais Condições Neurodivergentes

A neurodiversidade abrange uma ampla gama de condições que afetam o processamento de informações, o aprendizado, a comunicação e as interações sociais.

2.1. Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA é uma condição neurobiológica que afeta a maneira como uma pessoa percebe o mundo e interage com os outros. Ele é chamado de "espectro" porque as características e a intensidade das manifestações variam muito de pessoa para pessoa.

  • Características Centrais:
    • Diferenças na Comunicação e Interação Social: Podem ter dificuldade em entender ironias, metáforas ou a linguagem corporal dos outros. As interações sociais podem ser desafiadoras.
    • Interesses Restritos e Comportamentos Repetitivos: Podem ter um foco intenso e profundo em um ou mais assuntos. Podem apresentar comportamentos repetitivos, como o balançar do corpo ou o uso de objetos de forma ritualística, que servem para autorregular o sistema nervoso.
    • Sensibilidade Sensorial: Podem ter uma hipersensibilidade (muito sensível) ou uma hipossensibilidade (pouco sensível) a estímulos sensoriais como sons, luzes, texturas ou cheiros.

2.2. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é um transtorno neurobiológico que afeta a capacidade de regular a atenção, o foco, a impulsividade e a hiperatividade.

  • Características Centrais:
    • Desatenção: Dificuldade em manter o foco em tarefas ou conversas, parece não ouvir quando se fala com ele diretamente, esquece de compromissos e objetos do dia a dia.
    • Hiperatividade e Impulsividade: Inquietação motora, dificuldade em permanecer sentado, fala excessiva, interrompe os outros e toma decisões impulsivas sem pensar nas consequências.
    • Disfunção Executiva: Dificuldade em planejar, organizar, priorizar e iniciar tarefas.

2.3. Transtornos Específicos do Aprendizado

São transtornos que afetam a capacidade de adquirir e usar habilidades acadêmicas.

  • Dislexia: Afeta a capacidade de ler e decodificar palavras. Pessoas com dislexia podem ter dificuldade em reconhecer letras e sons, resultando em leitura lenta e com erros.
  • Discalculia: Afeta a capacidade de entender e trabalhar com números e conceitos matemáticos. A pessoa pode ter dificuldade em contar, fazer cálculos e entender o senso numérico.
  • Dispraxia: Afeta a coordenação motora, o planejamento de movimentos e a execução de tarefas que exigem habilidades motoras. A pessoa pode ter dificuldade com tarefas como escrever, andar de bicicleta ou amarrar os sapatos.

2.4. Outras Condições Neurodivergentes

  • Síndrome de Tourette: É um transtorno neurológico caracterizado pela presença de tiques motores e/ou vocais repetitivos, involuntários e rápidos.
  • TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo): Embora seja um transtorno de ansiedade, o TOC também é considerado neurodivergente por sua base neurológica e pela forma como o cérebro processa o medo e a repetição.

3. Características e Desafios da Neurodiversidade

A neurodiversidade não se trata apenas de desafios. É uma forma diferente de pensar e interagir com o mundo que, em muitos casos, pode ser uma vantagem.

3.1. Forças Neurodivergentes

  • Hiperfoco: A capacidade de se concentrar intensamente em um assunto de interesse, o que pode levar a um aprofundamento extraordinário em áreas específicas.
  • Pensamento Lateral e Criatividade: Pessoas neurodivergentes podem ter uma forma de pensar não linear, o que lhes permite encontrar soluções inovadoras para problemas.
  • Atenção aos Detalhes: A habilidade de perceber detalhes que outras pessoas não veem, o que pode ser uma vantagem em áreas como pesquisa, arte e ciência.
  • Sinceridade e Honestidade: A honestidade e a comunicação direta são frequentemente características de pessoas no espectro autista, pois elas não usam subterfúgios sociais.

3.2. Desafios Comuns

  • Sobrecarga Sensorial: O excesso de estímulos (luz, som, cheiro, toque) pode levar a uma sobrecarga sensorial, que pode causar ansiedade e desconforto.
  • Dificuldades de Comunicação: A forma de comunicação de pessoas neurodivergentes pode não se alinhar com o padrão neurotípico, o que pode levar a mal-entendidos e a dificuldades em formar relacionamentos.
  • Exaustão por Foco: O hiperfoco pode levar a um esgotamento mental e físico, pois a pessoa pode negligenciar as suas necessidades básicas para se concentrar em uma tarefa.
  • Desafios no Mundo do Trabalho: Ambientes de trabalho rígidos, que exigem uma comunicação padronizada e não oferecem flexibilidade, podem ser desafiadores para pessoas neurodivergentes.

4. Abordagens e Apoio à Neurodiversidade

O objetivo das intervenções para pessoas neurodivergentes não é "normalizá-las", mas sim ajudá-las a lidar com os desafios e a prosperar em um mundo que não foi projetado para elas.

4.1. Diagnóstico e Apoio Multidisciplinar

  • Diagnóstico Profissional: O diagnóstico, feito por um psiquiatra, neurologista ou neuropsicólogo, é o primeiro passo para o autoconhecimento e para a busca de apoio.
  • Equipe de Profissionais: O apoio deve ser multidisciplinar, incluindo psicólogos (para lidar com a ansiedade e a autoestima), fonoaudiólogos (para ajudar na comunicação), terapeutas ocupacionais (para ajudar a lidar com desafios sensoriais e de rotina) e neuropsicólogos (para ajudar a desenvolver estratégias de organização e planejamento).

4.2. Acomodação e Inclusão

  • Ajustes no Ambiente: Pequenas mudanças no ambiente podem fazer uma grande diferença. No trabalho, por exemplo, o uso de fones de ouvido para diminuir o ruído, iluminação mais suave ou a possibilidade de trabalhar em um local mais calmo podem ser úteis.
  • Psicoeducação: Educar a si mesmo, a família e os colegas sobre o que é a neurodiversidade é fundamental para diminuir o estigma e os mal-entendidos.

5. Conclusão

A neurodiversidade é uma realidade da condição humana. As mentes neurodivergentes não são inferiores ou defeituosas; elas simplesmente funcionam de maneira diferente. O desafio não é para o indivíduo neurodivergente se adaptar totalmente a um mundo neurotípico, mas para a sociedade se tornar mais inclusiva, flexível e acolhedora. Ao abraçar a neurodiversidade, criamos um mundo que não só acomoda, mas também celebra a variedade de talentos, habilidades e formas de pensar que todos os seres humanos têm a oferecer.

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O diagnóstico e o laudo médico são emitidos apenas por um psiquiatra. Um psicólogo pode trabalhar com a hipótese diagnóstica, uma ferramenta crucial para a terapia. Em nosso site, você encontra profissionais especialistas em ajudar a compreender o que você sente e a iniciar um tratamento em conjunto, colaborando para o seu bem-estar.

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Fontes e referências

Organização Mundial da Saúde (OMS): CID-11 - International Classification of Diseases 11th Edition.

American Psychiatric Association (APA): DSM-5-TR - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição, Texto Revisado.

Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP): Diretrizes sobre TEA, TDAH e outros transtornos.

National Institute of Mental Health (NIMH): Material sobre transtornos do neurodesenvolvimento.

Trabalhos de Judy Singer e de ativistas do movimento da neurodiversidade.

Foto de Hiki App na Unsplash

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