O método que iluminou a escuridão

Por que a evidência supera a opinião na busca pela verdade

Por Eduardo Brancaglioni Marquetti Lazaro, CRP 06/199338

11/12/2025 às 04:37, atualizado em 11/12/2025 às 12:33

Tempo de leitura: 4m

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Eduardo Brancaglioni Marquetti Lazaro
Psicólogo
CRP 06/199338 Mogi das Cruzes/SP
Possui vagas para atendimento social

Introdução

Vivemos em uma era ruidosa onde a opinião pessoal é frequentemente gritada com a mesma convicção de um fato comprovado. Nesse cenário caótico, a palavra ciência surge como um farol de estabilidade, mas muitas vezes é mal compreendida como um clube de elite ou um dogma inquestionável. A ciência não é uma entidade mágica nem uma autoridade divina. Ela é, essencialmente, uma ferramenta de humildade. Trata-se de um método sistemático de perguntar e responder, desenhado para compensar as falhas naturais da percepção humana. O valor do pensamento científico reside na sua capacidade de nos proteger de nós mesmos, dos nossos vieses e das ilusões que nossa mente cria para dar sentido ao mundo.

A ciência como comportamento e previsão

Para compreendermos o valor da ciência, precisamos olhar para ela não como um conjunto de livros empoeirados, mas como um comportamento humano refinado. B.F. Skinner, em sua obra seminal Ciência e Comportamento Humano, descreve a ciência como uma busca pela ordem e pelas relações de causa e efeito. Para o Behaviorismo Radical, o valor da ciência está em sua utilidade pragmática: a capacidade de previsão e controle. Isso não significa controlar pessoas de forma autoritária, mas sim entender quais variáveis do ambiente influenciam nossas ações. Quando dizemos que algo é científico, estamos afirmando que aquele fenômeno foi observado repetidamente e que, sob as mesmas condições, ele tenderá a ocorrer novamente. Isso nos dá segurança. A alternativa à ciência é o acaso ou a superstição, onde tentamos resolver problemas complexos com soluções mágicas que raramente funcionam.

O cientista interior e a reestruturação da mente

A aplicação do método científico não se restringe aos laboratórios; ela é vital para a saúde mental. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) baseia-se na premissa de que devemos atuar como cientistas de nossa própria experiência. Aaron Beck, o fundador da TCC, propôs que o sofrimento psicológico muitas vezes nasce de interpretações distorcidas da realidade, e não da realidade em si. Em sua prática clínica, Beck ensinou que não devemos aceitar nossos pensamentos automáticos como verdades absolutas. Pelo contrário, devemos submetê-los ao que chamamos de teste de realidade, que é o processo de confrontar nossas crenças com as evidências dos fatos. O valor do pensamento científico aqui é terapêutico. Ele nos liberta da tirania das suposições infundadas e nos aproxima de uma visão mais clara e funcional da vida.

A segurança da padronização global

A superioridade do método científico sobre o "achismo" também se manifesta na linguagem comum que ele cria para aliviar o sofrimento humano. Sem a ciência, um diagnóstico seria apenas um rótulo subjetivo de um observador. Graças ao rigor metodológico, temos manuais como o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), da Associação Americana de Psiquiatria. Esse documento não é uma escritura sagrada, mas o resultado de décadas de consenso estatístico e clínico. Da mesma forma, a Organização Mundial da Saúde, através da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), oferece uma estrutura global para que profissionais de diferentes culturas possam identificar e tratar problemas de saúde com a mesma base técnica. O valor "científico" aqui é a garantia de que o tratamento para uma depressão ou ansiedade não será baseado na intuição do terapeuta, mas no que funcionou para milhares de outras pessoas em situações controladas.

Conclusão

Valorizar o que é científico não é desprezar a arte, a fé ou a filosofia, mas sim reconhecer que, para intervir no mundo físico e na saúde humana, precisamos de um mapa preciso. A ciência nos oferece a melhor aposta disponível contra o sofrimento, baseada não em promessas, mas em resultados verificáveis. O cérebro humano possui uma incrível neuroplasticidade, a capacidade biológica de se reorganizar e aprender. Ao adotarmos uma postura científica diante da vida, estamos essencialmente ensinando nosso cérebro a buscar evidências antes de julgar e a procurar soluções reais em vez de ilusões confortáveis. A ciência é, em última análise, a forma mais elevada de respeito pela realidade.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2023.

BECK, Aaron T. Cognitive therapy and the emotional disorders. New York: International Universities Press, 1976.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde: CID-11. Genebra: OMS, 2022.

SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e comportamento humano. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 

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