Suzane Martins Brancaglioni

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Transtorno Depressivo Maior (CID-11: 6A70)

Por Suzane Martins Brancaglioni | Atualizado em 10/09/2025 | 9m

Depressão Psicanálise

O transtorno depressivo, popularmente conhecido como depressão, é uma condição médica complexa e séria que afeta o humor, os pensamentos, a energia e o comportamento do indivíduo. Diferente da tristeza passageira do dia a dia, a depressão é um estado de humor persistente e de baixa intensidade que causa prejuízos significativos na vida pessoal, social e profissional de uma pessoa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. A compreensão profunda dos seus critérios diagnósticos, causas e opções de tratamento é fundamental para um manejo eficaz da doença.

1. Classificação e Critérios Diagnósticos (CID-11 e DSM-5)

A classificação e o diagnóstico da depressão são orientados por manuais de referência internacional, que definem os sintomas e a duração necessária para o diagnóstico.

1.1. Critérios da Classificação Internacional de Doenças (CID-11)

A CID-11 agrupa o transtorno depressivo em diferentes categorias, como o Transtorno Depressivo de Episódio Único (6A70) e o Transtorno Depressivo Recorrente (6A71). O diagnóstico é baseado na presença de sintomas específicos por um período mínimo de tempo.

  • Sintomas Fundamentais: A presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas é essencial para o diagnóstico:
    • Humor deprimido: Sentimento de tristeza, vazio, irritabilidade ou desespero na maior parte do dia, quase todos os dias. Em crianças e adolescentes, o humor pode se manifestar como irritabilidade.
    • Anedonia: Diminuição acentuada do interesse ou prazer em quase todas as atividades que antes eram prazerosas, na maior parte do dia, quase todos os dias.
    • Redução da energia: Sentimento de cansaço ou fadiga persistente, mesmo sem esforço físico significativo, levando a uma diminuição geral das atividades.
  • Sintomas Adicionais: Além dos sintomas fundamentais, devem estar presentes no mínimo dois dos seguintes:
    • Dificuldade de concentração e atenção: A pessoa tem dificuldade em focar, pensar claramente ou tomar decisões.
    • Redução da autoestima e da autoconfiança: Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva e inadequada.
    • Sentimentos de culpa ou inutilidade: Ideias de que se é um fracasso, de que a vida não tem sentido.
    • Pensamentos e atos autolesivos ou de suicídio: Pensamentos recorrentes sobre morte, planos ou tentativas de suicídio. Este é um sintoma grave que requer atenção imediata.
    • Sono perturbado: Insônia (dificuldade em adormecer ou manter o sono) ou hipersonia (dormir demais).
    • Apetite diminuído ou aumentado: Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta.
    • Agitação ou retardo psicomotor: Agitação (não conseguir ficar parado) ou lentidão nos movimentos e na fala, perceptível para outras pessoas.

O diagnóstico de um Episódio Depressivo requer que os sintomas estejam presentes na maior parte do tempo, por pelo menos duas semanas, e causem sofrimento significativo ou prejuízo funcional. A gravidade do episódio (leve, moderado ou grave) é avaliada com base no número e na intensidade dos sintomas.

1.2. Critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5)

O DSM-5 utiliza o termo Transtorno Depressivo Maior. Para o diagnóstico, a pessoa deve apresentar pelo menos cinco dos nove sintomas listados abaixo, por um período de no mínimo duas semanas, e um dos sintomas deve ser obrigatoriamente humor deprimido ou anedonia.

  • Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias.
  • Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades.
  • Perda ou ganho significativo de peso ou alteração no apetite.
  • Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
  • Agitação ou retardo psicomotor (observado por outros).
  • Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
  • Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada.
  • Capacidade diminuída para pensar, concentrar-se ou indecisão.
  • Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.

O DSM-5 também inclui outros subtipos de transtornos depressivos, como o Transtorno Depressivo Persistente (Distimia), que é uma depressão crônica, embora de menor gravidade, com sintomas que duram por pelo menos dois anos.

2. Epidemiologia e Fatores de Risco

A depressão é uma condição global. Segundo a OMS, mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com depressão. No Brasil, os dados são alarmantes, com a maior taxa de prevalência de depressão da América Latina.

2.1. Fatores Genéticos e Biológicos

A predisposição genética é um dos fatores de risco mais importantes para a depressão. O risco de desenvolver a doença é cerca de três vezes maior em pessoas que têm um histórico familiar de depressão.

  • Neurotransmissores: Um desequilíbrio na função de neurotransmissores como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina é amplamente associado à depressão. Esses neurotransmissores são cruciais para a regulação do humor e das emoções.
  • Hormônios: Alterações nos níveis de hormônios, como o cortisol (hormônio do estresse), hormônios da tireoide e hormônios sexuais, podem contribuir para o desenvolvimento da depressão. A depressão pós-parto, por exemplo, está ligada a flutuações hormonais.
  • Estrutura e função cerebral: Estudos de neuroimagem mostram diferenças na atividade de regiões cerebrais, como o córtex pré-frontal (responsável pela tomada de decisões) e o sistema límbico (responsável pelo processamento de emoções).

2.2. Fatores Psicológicos e Ambientais

Eventos de vida estressantes e traumáticos são gatilhos significativos para a depressão, especialmente em indivíduos com predisposição genética.

  • Eventos traumáticos: Abuso na infância, bullying, perda de um ente querido, divórcio e desemprego podem desencadear um episódio depressivo.
  • Estresse crônico: A exposição prolongada a situações de estresse, como um ambiente de trabalho tóxico ou problemas financeiros, pode levar a um esgotamento do sistema de resposta ao estresse do corpo, resultando em depressão.
  • Condições médicas: Doenças crônicas, como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares, aumentam o risco de depressão. A dor crônica e a limitação física também são fatores de risco.
  • Uso de substâncias: O abuso de álcool e outras drogas é um forte fator de risco, podendo desencadear ou agravar a depressão.

3. Tratamento e Gestão da Depressão

A depressão é uma doença altamente tratável. O tratamento eficaz geralmente envolve uma abordagem combinada de psicoterapia e medicamentos, dependendo da gravidade do quadro.

3.1. Psicoterapia

A terapia é uma parte essencial do tratamento, ajudando o paciente a desenvolver estratégias de enfrentamento e a lidar com as causas subjacentes da depressão.

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): É a forma de psicoterapia mais eficaz para a depressão. A TCC ajuda o paciente a identificar e mudar padrões de pensamento e comportamento negativos que contribuem para a depressão. O foco está em reestruturar pensamentos distorcidos e aprender a enfrentar situações de forma mais positiva.
  • Psicoterapia Interpessoal: Foca em melhorar os relacionamentos e resolver conflitos interpessoais que podem estar contribuindo para a depressão. A terapia ajuda a pessoa a entender como os problemas nos relacionamentos podem afetar o humor.
  • Terapia Psicodinâmica: Explora as experiências passadas do paciente e como elas podem estar influenciando os sintomas atuais.

3.2. Farmacoterapia

A medicação é um componente crucial no tratamento de casos moderados a graves de depressão e deve ser sempre prescrita e monitorada por um psiquiatra.

  • Antidepressivos: São a classe de medicamentos mais utilizada. Os mais comuns são:
    • Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): Medicamentos como fluoxetina, sertralina e escitalopram são a primeira linha de tratamento para a depressão. Eles aumentam os níveis de serotonina no cérebro, melhorando o humor.
    • Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (ISRSN): Medicamentos como venlafaxina e duloxetina atuam em dois neurotransmissores e podem ser eficazes em casos mais complexos.
  • Outros medicamentos: Em alguns casos, o psiquiatra pode prescrever outros tipos de medicamentos para potencializar o efeito dos antidepressivos ou para tratar sintomas específicos, como insônia ou ansiedade.

3.3. Outras Intervenções e Suporte

Além da terapia e da medicação, outras estratégias são vitais para o processo de recuperação.

  • Terapia Eletroconvulsiva (TEC): Em casos de depressão grave e resistente ao tratamento, a TEC pode ser uma opção.
  • Estilo de vida: A prática regular de exercícios físicos, uma alimentação saudável e uma rotina de sono consistente são fundamentais para a recuperação.
  • Suporte social: O apoio de familiares, amigos e grupos de apoio pode fazer uma grande diferença. O isolamento social é um dos principais sintomas da depressão, e manter o contato com pessoas queridas é vital.
  • Técnicas de relaxamento: Meditação e técnicas de respiração podem ajudar a acalmar a mente e a reduzir o estresse.

4. Desafios e Comorbidades

A depressão, muitas vezes, não vem sozinha. É comum que ela coexista com outras condições, o que pode tornar o diagnóstico e o tratamento mais desafiadores.

4.1. Comorbidades Psiquiátricas

A depressão frequentemente coexiste com outros transtornos de saúde mental:

  • Transtornos de ansiedade: Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno do Pânico e Fobias Sociais são comorbidades muito comuns.
  • Transtornos por uso de substâncias: O abuso de álcool e drogas muitas vezes se desenvolve como uma forma de automedicação para lidar com os sintomas depressivos.
  • Transtornos alimentares: A depressão pode estar associada à anorexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar.

4.2. Risco de Suicídio

O risco de suicídio é um dos aspectos mais graves da depressão. A depressão é o transtorno mental mais associado ao suicídio, e a ideação suicida é um sintoma comum. A gravidade dos pensamentos suicidas e a presença de um plano de suicídio devem ser avaliadas e monitoradas por um profissional de saúde, pois requerem intervenção imediata.

4.3. Depressão e Condições Médicas

A depressão também está frequentemente associada a doenças físicas, como doenças cardiovasculares, diabetes e dor crônica. Essa conexão é bidirecional: a depressão pode aumentar o risco de doenças físicas, e as doenças físicas podem levar à depressão.

5. Conclusão

A depressão é uma doença real, com bases biológicas, psicológicas e sociais bem estabelecidas. O diagnóstico precoce e um plano de tratamento individualizado e de longo prazo são cruciais para a recuperação. A combinação de medicação e psicoterapia, junto com um estilo de vida saudável e o apoio de uma rede de suporte, oferece a melhor chance de superar a depressão e recuperar a qualidade de vida.

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O diagnóstico e o laudo médico são emitidos apenas por um psiquiatra. Um psicólogo pode trabalhar com a hipótese diagnóstica, uma ferramenta crucial para a terapia. Em nosso site, você encontra profissionais especialistas em ajudar a compreender o que você sente e a iniciar um tratamento em conjunto, colaborando para o seu bem-estar.

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Fontes e referências

  • Organização Mundial da Saúde (OMS): CID-11 - International Classification of Diseases 11th Edition, Capítulo 06: Transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento. Acesso em 10/09/2025.
  • American Psychiatric Association (APA): DSM-5-TR - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição, Texto Revisado.
  • Ministério da Saúde do Brasil: Materiais informativos e campanhas sobre saúde mental e depressão. Acesso em 10/09/2025.
  • Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP): Diretrizes e artigos sobre diagnóstico e tratamento de transtornos depressivos. Acesso em 10/09/2025.
  • Photo by Lucas Pezeta from Pexels: https://www.pexels.com/photo/woman-in-white-clothes-on-a-corner-2967156/

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